segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Uma paixão



Rádio é uma paixão avassaladora, uma obsessão com a qual convivo desde a minha infância.Me refiro não ao objeto, dos quais até tenho uma pequena coleção, mas sim à linguagem, com suas pausas, silêncios e entonações utilizados na construção da mensagem a ser transmitida. Como ouvinte ardoroso, e já tendo estudado bastante sobre o assunto, me permito avaliar que pouco a pouco este maravilhoso veículo de comunicação vai sendo destruído. Seja pela incompetência dos novos profissionais da área, eles mesmos não-ouvintes, nascidos em tempos de informação instantânea na rede e treinados pelas faculdades para redigir as notícias sem sair da frente da tela do computador, seja pelo descaso com que é tratado pelos seus proprietários e anunciantes, que dão toda a prioridade econômica à insossa televisão, ele caminha inexoravelmente para o fim. Pelo menos no Brasil. Porque ainda existem países onde ele segue firme e forte na sua bela missão. É o caso da Argentina ( confesso, outra de minhas paixões), onde as emissoras investem forte e recebem retorno de audiência, e, consequentemente financeiro, pelo aporte publicitário. Mitre, Continental, Belgrano, Rivadávia, Del Plata e Nacional da Argentina são algumas das emissoras que me fazem companhia nas madrugadas de sono tardio, sintonizadas em AM mesmo, aproveitando o fato de que neste horário os sinais entram forte aqui no estado. A escola argentina de rádio tem um estilo muito próprio, marcado pela opinião , uso de colunistas para assuntos específicos, tais como cinema, teatro, política etc e a utilização do locutor comercial, para que não se confunda o que é propaganda do que é conteúdo jornalístico. Além disso, os programas são bastante personificados na figura do apresentador, e nomes como Fernando Bravo, Chiche Gelblung, Magdalena Ruiz Guiñazú e Alejandro Dolina (clique para ver postagem antiga) são verdadeiros ídolos nacionais.
Aliás, um estilo bastante semelhante ao jeito gaúcho de se fazer rádio. O problema é que por aqui não existe um esforço para formação de novos profissionais, com o fim de substituir uma geração de grandes talentos forjados na prática e na paixão, que já se encaminha para a aposentadoria e cujo trabalho deixará marcas na história da radiofonia brasileira.

*Fotografia feita na Feira de Tristán Narvaja, Montevideo

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