domingo, 7 de fevereiro de 2010

A Boa Vingança


Rua Maipu, 555, centro de Buenos Aires. Faltam dez minutos para a meia-noite de uma noite quente de Fevereiro de 2010, quando a longa fila formada há mais de uma hora e que já dobra a esquina começa a se mover. Com passos largos, a multidão cruza o pequeno saguão do edifício estilo Art Deco e sobe rapidamente os 39 degraus que levam ao segundo andar, em direção ao auditório que faz parte da história do rádio na Argentina. Inaugurado em 1935, e construído especialmente para abrigar os estúdios da LR1 El Mundo, o prédio foi o palco por onde se apresentaram os mais importantes artistas da chamada época de ouro do rádio. Hoje ocupado pelas emissoras governamentais de radiodifusão lideradas pela Rádio Nacional AM 870, ele está lotado por um público bastante heterogêneo, que aguarda ansiosamente pelo início de um dos mais conhecidos ciclos radiais do país do Tango.
No palco, sentado ao centro da mesa e ladeado por outros dois participantes, e tendo a sua frente um pequeno teclado Yamaha, Alejandro Dolina dá inicio ao programa que apresenta há mais de duas décadas , irradiado por diferentes prefixos e que estréia este ano pelas ondas da Nacional. La Venganza Sera Terrible, que vai ao ar de segunda a sábado da meia-noite as duas da manhã, é um programa que mistura poesia, história, música e deliciosas discussões sobre o cotidiano, sempre marcados pela irreverência e talento do multifacetário Dolina, que além de condutor do programa é escritor, músico e ator.
Passando de uma divertida teoria de como se corre perigo nos banheiros públicos das grandes cidades, para a leitura de um texto que fala sobre o antigo hábito de poetas lerem e interpretarem suas obras para o público, e culminando com uma apresentação musical em que são tocadas músicas pedidas pela platéia, o fato é que as duas horas de duração de programa parecem voar. E a conclusão, ao findar o espetáculo, é que apesar de todos os avanços tecnológicos na área de comunicação, o rádio continua a encantar pessoas de todas as idades, provando que ainda irá sobreviver durante muito tempo. Pelo menos aqui, do outro lado do Rio da Plata.




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