sexta-feira, 10 de julho de 2009

Nós, os não-socráticos


Pensar. Alguém se habilita? Condição que nos diferencia dos animais, o fato é que o pensamento se encontra em extinção.No ano passado comemorou-se os quarenta anos do movimento estudantil de maio de 68, iniciado na França e que acabou por trazer uma série de mudanças mundo afora.Matérias de jornais, lançamentos literários e debates acalorados (nos meios acadêmicos, é claro) resgataram o período e muito se discutiu sobre o real significado e conseqüências práticas resultantes daqueles episódios. E por que tanto alarde em torno de um acontecimento tão longínquo? Provavelmente por ter sido o último grande levantamento baseado no princípio de questionar, questionar e questionar. Ao melhor estilo do método socrático*, que propunha um exercício de raciocínio lógico e elementar, condição básica para que possamos entender as coisas e não simplesmente aceitá-las como inquestionáveis.
No entanto, depois daquela geração, parece que a apatia tomou conta de todos. As “grandes” discussões giram em torno de assuntos banais tais como o futebol , a vida privada das chamadas “celebridades” e de quem vai para o “paredão” nos Big Brother’s da vida .
A verdade é que a sociedade tornou-se idiotizada. No Brasil, saímos de uma ditadura militar, ganhamos o direito de falar e pensar o que bem entendemos. Mas não fizemos bom uso deste poder. Ao invés disso, passamos a ser governados pela ditadura econômica, tão ou mais cruel que a de farda, pois ao contrário daquela, esta não tem rosto. Vivemos unicamente para manter nossos empregos e consumir, num círculo vicioso sem fim. E para preservar isto que chamamos de status social, nos submetemos à lei do silêncio. Não pensamos, não questionamos, não enfrentamos as verdades estabelecidas, como propunha Sócrates . Porque pensar necessita esforço, tempo e causa sofrimento. E para que, já que nossa vida é “tão maravilhosa”?

* método proposto pelo filósofo grego Socrátes, consistindo em cinco passos para questionar temas considerados como verdades absolutas.

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